Gerenciando carteiras alfa e beta

Gerenciando carteiras alfa e beta

Diferenciar os retornos de alfa e beta é essencial para as decisões de investimento mais eficientes

 A reflexão em torno dos conceitos de alfa e beta, e suas implicações para a montagem de carteiras com melhor relação entre risco e retorno, a menores custos, foi a proposta que Luiz Felipe Andrade, presidente da BlackRock Brasil, trouxe para os participantes do I Fórum de Investimentos, realizado no último dia 10 de novembro em São Paulo.

 Iniciando pelo básico, Andrade definiu juros como o retorno sem risco para uma pessoa deixar de consumir hoje para consumir amanhã. Já prêmio de risco é esperado quando se está exposto ao mercado, portanto tem um componente aleatório. Quando se decompõe esse retorno, vê-se que é justo receber um retorno sem risco mais um prêmio de risco, e aí se chega aos conceitos de alfa e beta.

 Alfa – Retorno acima ou abaixo do benchmark adquirido por um gestor ativo, que está associado ao fato de ter uma exposição diferente do mercado. Quanto menor a diversificação, maior será alfa, positivo ou negativo.

 Beta – Retorno do benchmark passivo. Quanto maior a diversificação, mais o risco converge para o do mercado, ou seja, o benchmark.

 O retorno alfa tem média zero considerando o mercado em sua totalidade. “O mercado não me paga, em média, por um risco que posso eliminar simplesmente acrescentando mais ativos à carteira”, diz Andrade. Já o retorno beta tem de ser positivo em longo prazo, porque, se assim não fosse, não haveria motivo para investir.

 Diferenciar retorno de alfa e beta é fundamental para o processo decisório de investimento, segundo Andrade. “Quando estou tratando de orçamento de risco, tenho de pensar em orçamento para buscar beta, com custo menor que os bons gestores de alfa”, afirma. “Mas é raro ver alguém que tenha processo formal para decidir quanto quer correr de risco em cada uma das classes de ativo para buscar alfa e beta.”

 Esse é um passo que precisamos dar no Brasil, gerir os riscos ativos das carteiras. Não é simples, ainda mais quando sabemos que a alocação de capital é diferente da alocação de risco. Por exemplo, os 200 maiores fundos de pensão americanos apresentam carteira média em que 80% da alocação de capital é ativa, mas somente 1% da alocação de risco é ativa

 Um processo estruturado de análise é importante para não comprar como alfa – e com preço de alfa – aquilo que é beta disfarçado. “O cuidado é não comprar gato por lebre”, alerta Andrade. “Tem de entender de onde vem o retorno.”

 O executivo mostrou os dados de uma pesquisa feita com 76 fundos de investimento brasileiros, cujos gestores se dizem predominantemente ativos. Em 60 meses, os fundos apresentaram modesto 0,9% ao ano acima do benchmark, em média. Nos meses de Ibovespa em alta, os gestores entregaram resultado 0,7% abaixo do benchmark. Em compensação, nos meses de alta, o desempenho foi 3,9% acima.

 Quando se olha para o retorno ajustado ao risco (“information ratio”), o índice foi positivo, com 0,12 em média, mas com grande variação entre os gestores individuais. Dada a variação de desempenho entre os gestores e a dificuldade de sua seleção, como os fundos de pensão deveriam proceder?

 “O cuidado é que a busca de alfa não traga para a carteira um risco ativo que não quero ter”, diz Andrade. Sem pensar o risco de forma estruturada, os riscos de perda podem ser significativos. Por exemplo, uma carteira de maior risco pode apresentar 11% de probabilidade de alfa 4% negativos. O executivo propõe como modelo mais eficiente a combinação de gestão ativa e passiva, para buscar alfa positivo, mas controlar o risco de queda. “Tanto a gestão passiva quanto a gestão ativa têm espaço na alocação de carteiras de ações brasileiras”, diz.

 Com a continuidade da queda de juros no país, será importante convencer diretores, conselheiros e comitês de investimento a entrar em novos produtos. “Em alguma hora vamos precisar de exposição internacional”, afirma Andrade.

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