GESTÃO DE RISCO – Atenção aos fundamentos

GESTÃO DE RISCO – Atenção aos fundamentos

Para se preparar contra as crises, o investidor de longo prazo precisa prospectar e analisar os fundamentos, e não priorizar tanto as circunstâncias de curto prazo.

 A distinção entre fundamentos e circunstâncias na seleção de ativos, gestão e otimização de portfólios de investimento foram os temas da apresentação de Luiz Jurandir Simões, diretor da QTK Pesquisa e Consultoria e professor da Faculdade de Economia e Administração da USP.

 Aos participantes do I Fórum de Investimentos, realizado em 10 de novembro de 2011 em São Paulo, o consultor explicou que as circunstâncias são os movimentos aparentes, que muitas vezes apavoram e podem induzir escolhas equivocadas. Já os fundamentos são menos visíveis, como os pilares de uma construção, que por isso mesmo constituem a parte dos investimentos mais importante para o investidor institucional de longo prazo.

 Os dois estão sempre presentes na vida do investidor. “Em todos os investimentos temos a parte sólida e a não tão sólida”, diz Simões. A atenção aos fundamentos é essencial para a construção de políticas sólidas e para a gestão de investimento nas crises, essas também inevitáveis.

 “Crise, qual crise? Esta ou a próxima?”, provoca o consultor.

Com base em seus projetos de consultoria e estudos acadêmicos, Simões propõe quatro fundamentos para o bom investidor:

1)      Esteja preparado para a próxima crise, particularmente se você for investidor de longo prazo. Ela acontecerá.

2)      Os efeitos das crises não são simétricos. “É nas crises que temos de criar, procurar novos investimentos. Aproveitarmos que os recursos só serão necessários no longo prazo”, diz.

3)      O investidor de longo prazo precisa saber esperar. Agir de acordo com as circunstâncias pode ser o caminho mais curto para o desastre.

4)      Mas é preciso estar preparado. O consultor lembra a frase de Zico, ex-jogador do Flamengo e da Seleção Brasileira de futebol: “Quanto mais eu treino, mais sorte tenho”, ou seja, o que muitas vezes chamamos de sorte na verdadeira é o produto de esforço e preparação prévia.

 Em todo mercado o investidor vai conviver com a normalidade e extremos, ressalta Simões. A normalidade é mais ou menos frequente conforme o mercado. A possibilidade de extremos está sempre presente, porque a incerteza está implícita nos fundamentos.

 As circunstâncias têm o poder de interferir nos fundamentos. Por exemplo, o entusiasmo inicial impulsiona a construção de um negócio, mas sem a construção de pilares sólidos os efeitos do entusiasmo logo desaparecem. Essa é uma característica comum no Brasil. “O brasileiros é empolgado”, diz. “Mas a improvisação não constrói fundamentos.”

 Para distinguir um fundamento, o consultor sugere algumas características: ser decisivo, difícil de construir e difícil de mudar. “A mudança é um processo lento, pois está pautada no indivíduo, que tem seus padrões, suas crenças”, diz. “Para mudar é preciso confrontar algo, e ninguém quer perder. Precisa ser provocado por algo intenso.”

 O mediador do debate, jornalista Cláudio Gradilone, editor de finanças da revista IstoÉ Dinheiro, perguntou se o consultor considera ruim a gestão de riscos no Brasil. Simões respondeu que não. “As grandes empresas evoluíram muito. Ainda há muitos ajustes, particularmente nas políticas de gestão de risco, mas avançou-se muito. Na média, muitas grandes empresas, estão conservadoras por não terem delineado políticas claras de gestão de risco”, disse. Esse delineamento deve ser aprofundado e muito bem delimitado em um texto claro e objetivo, cujos objetivos e esforços estratégicos devem ser compartilhados por toda a diretoria.

 Já com relação ao investidor individual, outro questionamento do público  foi se o participante de fundo de pensão estaria preparado para escolher um fundo com perfil de investimento. “Não. A maioria das pessoas não tem condições de escolher sozinha. É melhor escolher um bom gestor”, respondeu Simões.  

 O recomendado tanto para empresas quanto para indivíduos é somente tomar os riscos que suportam, conforme o consultor. Ou seja, não arrisque os fundamentos. “Para melhorar a gestão de riscos, teremos de mudar não a governança, mas sim nossa alma”, diz. “E isso leva tempo.”