Poupar dinheiro é prova de amor

Poupar dinheiro é prova de amor

EFP Porquinho e maosPoupar dinheiro é prova de amor
Junto com a maternidade vem a preocupação com o futuro do seu maior tesouro. Especialistas orientam como criar um colchão financeiro à moda moderna, sustentável. Joyce Moysés
Assim como os pais vão ao cartório registrar o bebê, seria ótimo que também começassem a poupar de alguma forma para o futuro dele desde o nascimento até a idade adulta.
O maior estímulo é encontrar um motivo forte para investir numa previdência, poupança, títulos de tesouro…, segundo o educador e terapeuta financeiro Reinaldo Domingos, presidente da DSOP Educação Financeira e da Editora DSOP, que já publicou vários livros para adultos e crianças, inclusive didáticos utilizados atualmente por 500 mil alunos. “Qual é o seu objetivo, sonho, necessidade, desejo futuro para o pequeno? Dar um carro zero, a grana para o primeiro negócio ou apê? Se a família guardasse 100 reais todos os meses por 20, 30 anos, facilitaria a conquista do primeiro milhão”, calcula ele.
“Tudo é uma questão de criar o hábito tanto nos adultos, preocupados com o futuro da família, quanto na criança, que precisa aprender desde cedo como lidar com o lado financeiro da vida, para que possa realizar outros sonhos e desejos quando for independente”, sugere Reinaldo, orientando ensinar a pescar em vez de apenas entregar os peixes. À medida que o filho for crescendo e ganhando discernimento, que tal presentear com cofrinhos? “Aconselho três para caber sonhos imediatos, aqueles a realizar em seis meses ou um ano e outros mais grandiosos, de longo prazo”, diz o educador.
Educação financeira, lembra Reinaldo, não está embasada só em planilhas e cálculos matemáticos, e sim no principal fator que motiva as pessoas a lidar melhor com dinheiro: a possibilidade de realizar sonhos, necessidades e desejos balanceando gastar com guardar. “Os pais têm a oportunidade de mostrar como atingir esse equilíbrio, incentivando que uma parte de todo o dinheiro que essa criança pegar na mão seja direcionado à realização de um desejo dela. Se aprender isso cedo, quando receber os primeiros salários, não vai torrar todo”, exemplifica ele.
A psicoterapeuta Valéria Meirelles, que estudou como homens e mulheres se comportam em relação ao dinheiro para sua tese de doutorado em psicologia clínica (2012), concorda que os pais devem se preocupar em poupar para o futuro do filho de um lado e, de outro, em criá-lo menos consumista. “Vivemos numa era de consumismo que não está trazendo a felicidade esperada, e é desde criança que se educa financeiramente para não criar novos perdulários nem avarentos. A saída é cultivar em casa o consumo consciente”, diz a psicóloga, sugerindo menos enxovais vindos de Miami e mais passeios que promovam o convívio familiar, por exemplo. Porque bens materiais não substituem afeto.
Também lidamos com tempos mais instáveis, então convém ter uma reserva de emergência numa aplicação mais conservadora e de alta liquidez (para o caso de os pais ficarem desempregados, por exemplo) e um bom plano de saúde, pois com hospital não dá para negociar.
Por baixo, o custo de um filho de 0 a 21 anos pode atingir quase 500 mil reais para um casal com renda familiar de 5 mil reais, segundo cálculos da consultoria Dsop. E até 2 milhões para quem tem padrão de vida mais elevado. Calma, pois a montanha de gastos é feita aos poucos, incluindo mensalidades escolares, vestuário, vacinas, festinhas de aniversário, baladinhas na adolescência…
“Nossas maiores preocupações são com uma boa educação e também com a saúde mental e física dela”, conta Taís Torres de Araújo, que já está fazendo uma poupança para a filha de quase um ano. “Se algo importante prejudicar o depósito num certo mês, tentaremos economizar para compensar no seguinte.” Willians Ribeiro e a esposa ainda não conseguiram. “O nascimento de um bebê implica em muitos gastos, então estamos passando por um processo de adaptação”, diz o pai de Bernardo, de 9 meses. “Investir em educação é fundamental, pois colabora no desenvolvimento pessoal, além de ser decisivo para a carreira. Mas a formação da personalidade, do caráter também está entre as nossas prioridades. Impor limites, ensinar a respeitar as pessoas e a não ser egoísta. Queremos que ele seja feliz.”
De fato, a realidade financeira de cada casal tem suas peculiaridades. Então, não dá para julgar nem generalizar. Em linhas gerais, para aqueles que pretendem montar um colchão financeiro para o filho, o conferencista e consultor em educação financeira e previdenciária Jusivaldo dos Santos, da JSANTOS Consultores, com mais de 20 anos de experiência nesses temas, conselheiro de fundos de pensão, recomenda:
1. Olhar o próprio bolso antes Primeiramente, temos que pensar em como está a vida financeira do casal no momento do nascimento do bebê. É um erro falar de investimentos a longo prazo para proteção dos filhos quando os pais, seus principais provedores, estão endividados no presente, o que coloca em risco o bem-estar de todos no futuro. Por isso, pôr numa planilha e revisar periodicamente o orçamento familiar, incluindo as novas necessidades do bebê, são medidas necessárias para equilibrar receitas e despesas do dia a dia, de modo que o resultado não despenque perigosamente.
2. Começar o mais cedo possível O tempo e a educação financeira/previdenciária são grandes aliados na hora de investir, tanto para solteiros quanto casais. “Vejo claramente que a melhor estratégia é aquela em que poupamos desde o nascimento dos filhos, ou pelo menos cinco anos antes do ingresso do primeiro deles na faculdade. Quanto mais cedo, melhor, e menor será a necessidade de grandes aportes para alcançarmos o mesmo patrimônio, visando cobrir investimentos nos estudos aqui e fora do Brasil”, projeta o consultor.
3. Estabelecer objetivos claros Antes de pensar na escolha dos investimentos dentre tantos disponíveis no mercado, o mais importante para o casal é definir objetivos claros a curto, médio e longo prazo. Isso porque alguns exigem recursos que podem ficar escassos antes de completar o ciclo de acumulação de capital para realizá-los. Trocando em miúdos, vale adequar o tamanho dos sonhos com o do bolso, assim os primeiros não precisarão ser interrompidos.
4.  Adotar medidas de segurança Mais do que nunca, é necessário que o casal pense em um seguro de vida, mas também não subestime o aumento da longevidade. Afinal, homens e mulheres estão vivendo mais de 74 anos, em média. “O ideal é montar uma estratégia que cubra a segurança das finanças primeiramente dos principais provedores da criança, incluindo um plano de previdência privada e seguro na modalidade PGBL (Plano Gerador de Benefício Livre) para os pais, pensando lá na frente na aposentadoria, e outro no formato VGBL (Vida Gerador de Benefício Livre) em que o percentual das ações vá diminuindo até ficar 100% de renda fixa no momento que o filho for efetuar o primeiro resgate para pagar os estudos. Nos dois casos, encare como investimentos de longo prazo (superior a dez anos), contratando sob o regime de tributação regressiva, pois o desconto no imposto de renda será de apenas 10%”, alerta Jusivaldo.
5. Diversificar as aplicações Completando a cesta é recomendável aplicar em títulos de renda fixa públicos federais e também títulos de instituições privadas. “No segundo caso, convém diversificar em instituições de primeira e segunda linha. Pois, caso ocorra insolvência de alguma, o Fundo Garantidor de Créditos (FGC) garantirá o seu investimento até o limite de 250 mil reais. Não vale a pena se concentrar na poupança pensando em longo prazo, porque a inflação irá corroer o ganho real. Ela é válida para garantir despesas menores, de emergência, por causa da liquidez.
6. Consultar quem fala essa língua Quem acha que as recomendações acima, aplicáveis a pais e filhos, pareceram escritas em grego… não está só. Pesquisa no fim de 2012 com 2 mil pessoas em 100 cidades, encomendada pela BM&F Bovespa — a primeira do gênero já feita no país — mostrou que a maioria dos brasileiros não entende nem o básico sobre investimentos. Se for o seu caso, recorra a um consultor especializado, que acompanha com lupa o mercado financeiro e de previdência, entende as diferenças tributárias e de taxas de administração, pode traçar estratégias personalizadas conforme os objetivos de cada casal a curto, médio e longo prazo. Sendo vital estimar quanto será necessário guardar para cumprir tudo o que desejam e um pouco mais. “E não hesite em mudar suas decisões durante o percurso”, finaliza Jusivaldo.
Fonte: REVISTA A TRIBUNA/ ANO 9/ EDIÇÃO 462