Investidores: Busca por retorno atraente e aplicações mais arrojadas

Investidores: Busca por retorno atraente e aplicações mais arrojadas

Pessoa na corda bamba
Desafio na volatilidade
O Brasil viveu, nos últimos anos, um processo gradual de normalização de sua política monetária, que, com juros em níveis civilizados, trouxe consigo mudanças no comportamento e na estrutura dos fundos de investimentos. Antes acostumado a altas taxas de retorno com baixíssimo risco, o investidor brasileiro concentrava-se em aplicações conservadoras. Hoje, o cenário mudou, mesmo com o recente processo de alta de juros. Os investidores, em busca de taxas de retorno atraentes, migram para aplicações mais arrojadas.
Segundo a Associação das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), a captação dos fundos saltou de R$ 12 bilhões no primeiro semestre de 2008 para mais de R$ 100 bilhões neste ano. O patrimônio líquido dobrou. “O brasileiro esteve acostumado há muito tempo com remuneração alta e liquidez. Isso mudou. Começou com um maior investimento em previdência complementar aberta. Agora, mais recentemente, os fundos de renda variável se destacam. Então estamos vendo uma maior diversificação”, diz Carlos Massaro, vice-presidente da Anbima e presidente da BB DTVM.
De acordo com ele, o ambiente regulatório resultou na formação de um cenário propício para o florescimento da indústria de fundos. Isso não significa perfeição. Massaro defende a isonomia dos fundos aos investimentos diretos em ações, que gozam de diferenciação tributária.
Ele também cita como um dos fatores que contribuíram para esse resultado o bom momento vivido pela economia de 2008 para cá. O crescimento do mercado de trabalho possibilitou maiores investimentos em fundos de previdência. A renda em alta abriu espaço também para uma maior fatia dos salários alocada para a poupança.
Os números da previdência complementar apresentam crescimento exponencial. Em 2007, as captações somavam R$ 8,4 bilhões. Em 2012 foram de R$ 35 bilhões. O patrimônio líquido deve saltar de R$ 92,6 bilhões para R$ 310 bilhões no fim do ano.
Mesmo com esses números, os especialistas consideram o Brasil ainda distante do perfil de investimentos dos países desenvolvidos. Esse caminho será longo e sujeito a solavancos. A recente alta dos juros, segundo gestores e economistas compõe essa trajetória.
“Não tem como dissociar a indústria de fundos do cenário macroeconômico. A indústria está se transformando porque os investidores estão ajustando suas carteiras à luz do que aconteceu nos últimos anos. Era uma indústria altamente concentrada em produtos conservadores. Fazia sentido com taxas tão altas. Mas isso está mudando”, diz Eduardo Castro, superintendente-executivo de fundos de investimento da Santander Asset Management.
Segundo ele, hoje há uma busca por um produtos mais sofisticados, o que leva as gestoras a apresentar cada vez mais fundos multimercado, de ações e de renda fixa com índices. Isso acontece, diz ele, porque existe hoje um interesse maior por produtos além dos tradicionais DI ou CDI.
Os números da Anbima confirmam a tese. Apesar do momento turbulento da Bovespa, a captação líquida dos fundos de ações foi expressiva. No primeiro semestre ela foi de quase R$ 10 bilhões. No ano anterior, o número não chegou a R$ 2 bilhões. Na rentabilidade, os fundos de ação, especialmente os não relacionados com o Ibovespa, também têm destaque, com alta de quase 30% nos últimos 60 meses, ante uma queda de quase 40% do Ibovespa.
Allan Hadid, presidente da BRZ Investimentos, explica a opção pelos fundos de ação livre. “Não somos mais país de taxa de juros de 20%. De dois anos pra cá tem de diversificar. Comprar bolsa é interessante. Tem boas empresas. Mas não é apenas olhar o Ibovespa, e sim os fundos livres.”
Nesse processo de diversificação, os multimercados se destacam. Joaquim Levy, da Bradesco Asset Management, considera esse tipo de fundo o mais apropriado para o curto prazo. “Têm mais risco, mas estão indo muito bem.” O mesmo diz Marcos Paolozzi, diretor de renda fixa e multimercados da Fator Administração de Recursos. “Na categoria, a maioria de nossos fundos superou seu benchmark no ano até junho.”
Mas de acordo com os especialistas, os fundos mais simples, como os DI, sempre terão espaço nas carteiras, principalmente das pessoas menos dispostas a correr riscos ou em momentos de tensão na economia. Fonte: Valor Online