Ganhos na renda fixa são mais raros do que há 5 anos

Ganhos na renda fixa são mais raros do que há 5 anos

InvestimentosAlém da possibilidade de encontrar pechinchas na bolsa, com o suporte de fundamentos domésticos, ganhar com os juros era mais fácil há cinco anos, em plena crise financeira internacional. Para estimular a economia em tempos de crise, o Banco Central fez cortes sucessivos nos juros. A meta para a Selic passou de 13,75%, em setembro de 2008, a 8,75%, um ano depois. O movimento de corte da taxa favoreceu os fundos de renda fixa, que renderam 11,94% nos 12 meses que se
seguiram à crise. A taxa básica andou no sentido contrário nos últimos 12 meses e subiu de 7,5%, em setembro de 2012, para atuais 9%. No período, fundos de renda fixa renderam 8,35%, menos do que há cinco anos.
O movimento de queda dos juros valorizou os títulos prefixados no período da crise e, assim os fundos que carregavam esses papéis. “Havia uma direção favorável. Hoje a volatilidade é muito grande e o movimento dos juros é para
cima”, diz Carlos Eduardo Rocha, sócio responsável pela gestora do Brasil Plural. Diante de uma inflação resiliente, há a expectativa de elevações adicionais na Selic.
Mas, como a taxa continua em patamar de um dígito, os pós-fixados também não  atraem tanto. O Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI), referencial para aplicações conservadoras, acumulou alta de 11,65% no ano que se seguiu à crise,
mais fartos do que os 7,24% dos 12 meses encerrados em agosto deste ano. Para quem carrega até o vencimento, as NTN-Bs, títulos que rendem uma taxa prefixada mais a variação da inflação, também eram mais rentáveis àquela época. O título mais longo, com vencimento em 37 anos, pagava taxa real de 7,14% em 11 de setembro de 2008, ante 5,94% oferecidos na NTN-B 2050 ontem.
Para completar, a inflação somava ganhos aos investimentos no período de crise, enquanto come boa parte deles hoje. Entre setembro de 2008 e agosto de 2009, o IPCA registrou deflação de 0,71%. Já nos últimos 12 meses, até agosto, mostrou inflação de 3,85%.  Ao comparar 2008 e 2013, Elíseo Viciana, vice-presidente da Mapfre Investimentos, diz que os dois períodos, ainda que diferentes, têm em comum a volatilidade, o alto grau de incerteza e a indefinição do cenário econômico. “São dois anos em que é necessário que se adote bastante estratégia de proteção de portfólio, já que é difícil ter previsibilidade”.  Viciana, afirma que, para evitar perdas em casos de mudança abrupta, é importante ao gestor ter seu cenário-base sempre em reavaliação e realocar sua carteira com maior frequência. “Em um ano em que a pressão por retorno é forte, é muito importante se fiar no seu modelo de investimento, evitar entrar em modismo”, diz. E para o executivo, há hoje uma pressão por retorno parecida com a de 2008, com a diferença de que o perfil do investidor está diferente.
“Em 2008, o mundo estava num momento positivo e aconteceu uma ruptura, um pânico, e a dificuldade era a de como proteger o capital num cenário em que todos os preços de ativos estavam desmoronando. Isso não acontece agora”, afirma
Viciana, que ressalta que, apesar das dificuldades enfrentadas pelo Brasil, não há uma crise de confiança no sistema financeiro internacional. “Naquela época, só importava a preservação de capital. Hoje, há uma discussão de qual opção
tem bons retornos.”  A grande questão do momento, segundo Viciana, diz respeito ao comportamento dos mercados à medida que os estímulos à economia americana forem retirados pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) e as taxas de juros reais voltarem ao campo positivo.  Paulo Gala, estrategista da Fator Corretora, aponta uma exaustão do nível de estímulos econômicos por parte dos governos, o que deixa os mercados em situação mais frágil, em caso de uma nova “pernada” da crise.
“Todos os países pisaram no acelerador da política fiscal e monetária e houve uma fragilização do mundo emergente por conta dos estímulos. A possibilidade de reação hoje é muito menor que há cinco anos e isso se reflete
inclusive nos preços dos ativos”, afirma.  Diante da perspectiva de juros mais altos no Brasil, especialmente no longo prazo, Gala considera que o pequeno investidor encontra oportunidades para aplicar em títulos públicos, caso carregue até o vencimento. “Foi aberta uma janela de oportunidade interessante”, afirma.
ainda que também considere mais desafios no contexto atual.
“A fase de ouro, especialmente para a renda variável, passou, e a renda
fixa está mais complexa”, comenta.
Para o estrategista de renda variável do HSBC, Carlos Nunes, o investidor encontra hoje poucas alternativas interessantes para alocação de recursos. “É um cenário que vai requerer muito mais trabalho do investidor. Para quem teve
sangue frio, 2009 foi muito fácil. Hoje, o cenário é muito mais complicado.”  Fonte: Valor Econômico