Retorno de fundos de ações desaba em janeiro

Retorno de fundos de ações desaba em janeiro

Grafico de volatividadeRetorno de fundos de ações desaba em janeiro
2014 começou mal para os fundos de ações, deixando a lembrança do fraco desempenho do ano passado bem latente na memória do investidor. Nenhum dos sete tipos de carteiras conseguiu fechar janeiro com rentabilidade positiva, com os fundos small caps, que investem principalmente em empresas de menor capitalização, liderando as perdas, com variação média de 8,34%, conforme os dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Em meio à queda de 7,51% do Ibovespa na abertura deste ano, os fundos da modalidade Ibovespa Ativo tiveram prejuízo médio de 6,93%.
Nem mesmo as carteiras de dividendos, aquelas que aplicam em ações de empresas com histórico de “dividend yield” (relação entre o dividendo por ação distribuído e o preço do papel) consistente ou com essa perspectiva, escaparam do mau humor, com retorno negativo de 6,18%.
Dentre os 21 tipos de fundos da indústria, apenas três conseguiram superar ou ao menos empatar com o retorno livre de risco, medido pelo Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI), que variou 0,84% em janeiro. São eles os fundos cambiais, com retorno positivo de 2,18%; referenciados DI (0,86%); e de curto prazo (0,84%).
O gestor de renda variável da Modal Asset, Eduardo Roche, ressalta que o mercado brasileiro foi pressionado no mês passado dentro de um contexto global negativo para os emergentes de forma geral, e com problemas locais também vindo mais à tona.
“O ano já começou de forma mais desafiadora que no ano passado e essa pode ser um pouco a tônica dos próximos meses, ainda mais no Brasil, com eleições”, afirma Roche.
Diante de uma conjuntura macroeconômica doméstica que considera complicada, com um menor ritmo de crescimento, preocupação com as contas fiscais e tendência de depreciação cambial, e com a pressão externa sobre os emergentes, o gestor ressalta que o mercado inspira cautela. “É difícil ver uma reversão na expectativa tão forte com base no que vemos hoje”, diz. “O apetite a risco do investidor está muito afetado.”
Nesse cenário, ele considera que papéis de menor liquidez tendem a ser mais prejudicados, o que pode justificar a rentabilidade pior de fundos do tipo small caps.
Luiz Henrique Guerra, sócio da gestora dedicada a fundos de renda variável Indie Capital, também enxerga a queda da bolsa brasileira em janeiro como parte de um movimento maior de realização dos mercados de maior risco, o que não poupou sequer as praças acionárias americanas.
A justificativa para essa trajetória se baseia em uma combinação de três fatores, diz Guerra. O primeiro deles diz respeito a uma dúvida com relação à capacidade de os Estados Unidos crescerem 3% ou mais neste ano. O segundo está associado à preocupação com um ritmo mais reduzido de expansão da economia chinesa e o terceiro, à continuidade do processo de normalização monetária nos EUA, a despeito de dados piores da economia do país e dos impactos sobre os mercados emergentes.
“Três fatores macroeconômicos provocaram a queda das bolsas no mundo inteiro. Somado a isso, também houve algum excesso no ano passado, quando o S&P 500 subiu cerca de 30%”, comenta o sócio da Indie.
A saída de recursos estrangeiros do Brasil também pressionou os mercados em janeiro, mas Guerra diz acreditar que os ativos começam a apresentar preços interessantes. Mas isso por si só não deve ser suficiente para atrair investidores internacionais.
“O fluxo estrangeiro só entra quando ele tiver alguma noção de patamar do câmbio razoável. E ele espera porque acha que o câmbio tem que depreciar um pouco mais. E um aspecto bastante importante que faria o fluxo voltar é o governo federal endereçar a questão do controle fiscal de forma crível e relevante”, assinala.
O sócio-fundador e gestor da 3R Investimentos, Tomás Awad, enxerga na China a principal fonte de pressão no curto prazo e, num horizonte de médio e longo prazos, considera a situação do próprio Brasil e a sinalização em termos de política econômica os fatores mais relevantes a serem acompanhados pelo mercado.
Awad também considera muitos ativos baratos na cena local, mas tem receio de que uma desaceleração chinesa prejudique ainda mais o apetite do investidor. “O curto prazo parece incerto muito por conta da China e pelo Brasil, mas a sensação é de que o pior está razoavelmente precificado”, afirma.
Embora a renda variável tenha amargado os principais prejuízos na estreia do ano, a situação da renda fixa também não trouxe alegrias ao investidor. Os fundos renda fixa tiveram ganho médio de 0,68%, portanto abaixo da variação do CDI, e os renda fixa índices tiveram perda de 1,00%, na média.
A trajetória reflete a volatilidade acentuada no mercado de títulos públicos em janeiro, com destaque para os papéis atrelados à inflação de mais longo prazo. Com prêmios mais esticados, a NTN-B Principal, que paga a variação do IPCA mais uma taxa prefixada, com vencimento em 2035 teve desvalorização de 10,52% no mês passado.
Fonte: Valor Online