Tesouro pode pagar mais em papel de 10 anos

Tesouro pode pagar mais em papel de 10 anos

Saco de DinheiroO Tesouro Nacional deve passar por um importante teste hoje, quando fará o lançamento do novo título prefixado de dez anos, a NTN-F com vencimento em 2025. O Tesouro levará a leilão 2 milhões de papéis e o ativo que tende a ocupar o lugar do título com resgate em 2023, cujo estoque soma cerca de R$ 30 bilhões. A ideia do Tesouro é dar sequência à estratégia de emitir, a cada dois anos, um novo título que sirva de referência de longo prazo. A nova NTN-F nasce, entretanto, em um momento em que o apetite por risco está comprometido. Em meio à crise de credibilidade da política fiscal e consequente risco de rebaixamento do rating do país, a expectativa é que o preço a ser pago seja compatível com uma nota de classificação de crédito abaixo da atual.
A
s estimativas são de que a NTN-F 2025 seja emitida com um rendimento perto de 13,50% – que é a taxa do contrato de DI de prazo equivalente, que serve de referência para a definição de preço dos papéis. Se a previsão se confirmar, será a maior taxa nominal vista na estreia de um papel de 10 anos. Um custo que fica na conta do Tesouro até o vencimento do papel, ainda que o mercado melhore ao longo dos anos.
Quando lançou, em janeiro de 2007, o primeiro prefixado de dez anos, o Tesouro pagou 12,64%, pouco abaixo do nível da Selic naquele momento, de 13% ao ano. O baixo spread refletia a perspectiva de que o país ganharia grau de investimento – o que se concretizou em abril de 2008. Já a NTN-F 2021 saiu pela primeira vez a 13,10%, com a Selic em 11,25%; e a NTN-F 2023 foi vendida no lançamento, em março de 2012, a 11,329%, quando a Selic estava em 9,75%.
Levando-se em conta a evolução dessas taxas no secundário, em condições normais de temperatura e pressão, será a primeira vez que um papel de dez anos paga um rendimento desse nível – à exceção de 2008, quando a instabilidade dos mercados alcançou níveis inéditos com a quebra do Lehman Brothers e a NTN-F 2017 chegou a render uma taxa acima de 18%.
A piora dos prêmios de risco é um fenômeno que ocorreu ao longo de 2013, em meio à mudança de nível dos juros dos títulos do Tesouro americano, pressionados pela proximidade da reversão da política monetária por lá. Mas foi acentuada no quarto trimestre, graças a fatores locais. À deterioração das contas públicas, seguiu-se o risco de um rebaixamento da nota do país. Basta olhar para a NTN-F 2023, atualmente o prefixado mais longo, negociada no secundário ontem a 13,01%, três pontos acima da Selic e perto da máxima históricas, de 13,24%, em 3 de dezembro.
O Tesouro já enfrentou momentos até mais difíceis, mas certamente este é um janeiro muito complicado”, afirma um especialista, lembrando que esta época é especialmente importante para o Tesouro, que tem que lidar com uma concentração de vencimentos. “Enquanto não tirarem a espada das agências de rating da cabeça do Tesouro, fica difícil que o prêmio ceda.”
As questões apontadas por especialistas como argumento para essa deterioração são bastante conhecidas: inflação ainda salgada e resistente, ao mesmo tempo em que o ciclo de aperto monetário parece aproximar-se do fim; atividade econômica em ritmo lento, tornando mais nebulosas as perspectivas de arrecadação e de atração de capital; proximidade das eleições presidenciais; e, sobretudo, o rumo da política fiscal.
O que explica, então, a determinação do Tesouro em lançar o papel, se o timing parece tão inadequado? A continuidade da estratégia já tratada como permanente de criação de referência de longo prazo a cada dois anos é importante, por dar previsibilidade na gestão da dívida, o que tende a surtir efeitos positivos ao longo do tempo. “Se o momento não é o ideal, vamos calibrar o lote”, explica uma fonte do Tesouro. “É um momento de taxas pressionadas e vamos ter cautela, pois é um lote que vai continuar conosco por muito tempo.”
Por isso mesmo, o mercado considerou “ousado” o volume colocado nesta primeira oferta. “Acho que o Tesouro está correndo riscos”, diz um operador. Nos últimos dias, dizem operadores, os negócios com o DI janeiro/2025 cresceram e a taxa disparou, exatamente com o mercado tentando calibrar o prêmio de risco a ser pedido no leilão. Ao definir um volume mais alto, dizem profissionais, esse movimento pode ser potencializado. “E, se o leilão for mal-sucedido, o mercado vai piorar ainda mais”, diz outro profissional.
Analistas entendem que o fato de haver mais riscos para a piora do cenário foi outro fator considerado. “Se o Tesouro pretende construir esse ponto da curva mais longa, não vale a pena esperar, porque a instabilidade pode piorar, especialmente no período eleitoral”, diz um especialista. Por ser um papel novo, o leilão será holandês, operação na qual se estabelece uma taxa de corte que vai remunerar igualmente a todos os que tiverem as propostas acolhidas.
Fonte: Valor Econômico/JSANTOS Consultores